Servidores e novos donos de self-services populares da sede do governo de Minas aguardam a presença de Zema, que já foi visto com equipe de transição em outros restaurantes do local
“Quero ver o Zema almoçar aqui e espero que ele conheça a realidade do servidor”, afirma a pedagoga Regina Braz, de 44 anos, servidora do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), que frequenta o restaurante desde os tempos em que o local era conhecido como “morte lenta”. Situados no terceiro andar do centro comercial da Cidade Administrativa, o “morte lenta” servia a quilo e o “morte súbita”, extinto restaurante que ficava em frente, oferecia refeições à la carte.
Apesar da mudança da administração dos restaurantes, há cinco anos, e a melhora na qualidade da comida, averiguada pela equipe do EM, que almoçou no local, o apelido pegou e os atuais donos, Sérgio Mourão e Clécia Abdon, penam para tirar a imagem negativa herdada do antigo estabelecimento. Agora, no entanto, a maior preocupação é com a licitação do restaurante, que serve mais de 1,5 mil refeições por dia. O contrato vigente vence em março e precisa entrar na pauta do futuro governador. “Trabalhamos no limite para oferecer o melhor a R$ 20,79”, diz Mourão.
E eles garantem que, para ter a fidelidade dos servidores, oferecem muito além do exigido pela licitação. Em três rampas de alimentação – termo usado para denominar a estrutura onde é servida a comida, resfriada ou em banho-maria –, a clientela tem à escolha 37 tipos de salada, quatro tipos de carne, dois tipos de arroz, feijão preto e carioquinha, macarrão e legumes, entre outras opções.
CAPRICHO NO PRATO
“Não colocamos carne nas guarnições para atender também os vegetarianos e veganos”, explica Clécia. “O filezinho empanado de frango não pode faltar e é um dos carros-chefe. Cozinhamos somente com alho e sal, sem conservantes e, de duas a três vezes por semana, colocamos salgadinhos fritos entre as guarnições”, diz.
Mesmo com todo o capricho, o atual governador Fernando Pimentel (PT) e seus antecessores, Alberto Pinto Coelho (na época, PP, e, atualmente, no PPS), Antonio Anastasia (PSDB) e Aécio Neves (PSDB) nunca estiveram no restaurante, segundo os donos do estabelecimento, que tem mais de 200 mesas e 800 cadeiras para receber o público. “Pelo menos eu nunca vi e nunca me disseram que viram”, afirma Mourão.
Em compensação, o servidor efetivo Diogo Quintino, de 36, bate ponto quase todo dia no Alimentex. “O preço é bom e a qualidade da comida é boa. Quero ver se o Zema vai estar aqui em janeiro”, diz. E ele dá a dica para o governador: “Por volta das 13h não tem fila e do prédio Gerais até aqui gasto uns 10 minutos a pé”, ensina.
Cardápio fitness para Zema
Em vez do restaurante popular da sede do governo mineiro, o futuro governador Romeu Zema (Novo) virou cliente dos estabelecimentos do prédio Gerais, onde está concentrada a equipe de transição. Volta e meia, é visto almoçando nos self-services do nono andar do edifício. Enquanto secretários circulam com frequência pelo espaço, os responsáveis pelos três restaurantes da área afirmam que Zema é o primeiro governador a fazer parte da clientela. Por lá, pelo prato de Zema, já deu para perceber que o governador é fitness e adepto da alimentação saudável. O empresário evita carboidratos, como arroz e massas, e prioriza legumes e carnes brancas.
Apesar de serem mais requintados do que o Restaurante Alimentex, os estabelecimentos estão longe de ser sofisticados e o local se assemelha a uma pequena praça de alimentação de shoppings centers, com preços que variam de R$ 32,90 a R$ 68,90 o quilo, no caso da comida japonesa, da qual o coordenador da transição de Zema, o vereador licenciado Mateus Simões (Novo), é fã.
O futuro mandatário já esteve por algumas vezes na praça de alimentação do nono andar, mas, agora, tem preferido pedir a refeição a almoçar no espaço destinado às mesas dos restaurantes. Os próprios funcionários dos estabelecimentos montam a marmita e entregam a emissário da equipe de transição, que busca e paga pela refeição.
Já houve situações também de montar um pequeno bufê para as reuniões do time de Zema. “Servimos o almoço para uma reunião e Zema pediu coisas simples, sem precisar de inventar. Levamos salmão e picanha, porque é o que já tem aqui no restaurante normalmente. Montei prato com legumes, folhas, porque ele corre e faz exercício”, explica a chef dos restaurantes Khios e Kigai, Patrícia Cavalcanti. O governador eleito também já esteve no estabelecimento. “Já veio três vezes e enfrentou fila”, lembra Patrícia.
Central de marmitex
Entre as opções de almoço na Cidade Administrativa, o governador eleito Romeu Zema (Novo) pode encomendar um marmitex com uma das quatro empresas cadastradas para fornecer esse tipo de alimentação: o Almoço do Fernandão, o Cafofo do Bin Laden, o Bem Feitinho e o Requinte. O servidor escolhe o tamanho – míni, pequena, média e grande – e o prato do dia pelo WhatsApp. A entrega ocorre no ponto de distribuição de marmitas, entre as 11h30 e as 12h20, e os funcionários públicos comem nos refeitórios de cada andar dos prédios.
Os preços variam de R$ 9 a R$ 13. As marmitas são levadas em caixas de isopor, com temperatura adequada às exigências da Vigilância Sanitária. Servidor da secretaria de Educação, Winder Batista, de 43 anos, explica a fila que se forma em frente à mesa do Bem Feitinho. “É dia de tropeiro. Sexta tem feijoada e a fila vai até o elevador”, conta. A empresa tem a preferência dos consumidores e fornece, em média, 70 refeições por dia.
As marmitas já vem com o nome de cada cliente, tudo “bem feitinho”, mas o dono, Marcial Ferraz, que está há seis anos na Cidade Administrativa, assegura: nunca grafou o nome de nenhum governador na tampa de nenhuma embalagem. E desconfia que um dia isso aconteça. “Acho que pela importância do governador, ele não vai comer nunca com a gente”, desconfia. Se Zema fugir à regra, no entanto, Marcial avisa: “Temos uma marmita fitness, com frango e legumes”, comenta.