No meio religioso, os fiéis costumam doar 10% de seus ganhos mensais à igreja para ajudar na manutenção do local em uma prática denominada dízimo. Era essa doação que inspirava o vereador da Serra Geraldinho Feu Rosa (sem partido) a fazer a cobrança de parte do salário dos servidores de seu gabinete – o chamado “rachid”, segundo denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES).
O parlamentar é investigado pelo MP-ES e, atualmente, está afastado de suas funções na Câmara de Vereadores. Uma ação cível por ato de improbidade administrativa da 13ª Promotoria de Justiça Cível da Serra detalha como o vereador recolhia 10% do salário de seus assessores todo mês.
Na investigação, foram ouvidas pessoas que trabalham no gabinete de Geraldinho e ex-funcionários que aturam ao lado do vereador após ele ter sido eleito para o mandato na Casa de Leis do município.
Em depoimento ao MP-ES, uma ex-servidora revelou que, no início, contribuía com R$ 240 e, depois, passou a dar R$ 200. “Certa vez, chegou a ficar um mês sem pagar; que Geraldinho lhe disse, ‘olha, o dízimo, a gente tem que pagar'”, diz trecho do depoimento da servidora destacado na ação.
Segundo ela, o dinheiro arrecadado seria destinado ao trabalho social, como compra de cestas básicas, ajudar nas festas da comunidade e até pagar carro de mudanças para moradores. O dinheiro era depositado na conta da mãe de uma servidora do gabinete. Contudo, a ex-funcionária passou a desconfiar da destinação do recurso depois que o vereador negou que tivesse dinheiro para ajudar um morador com uma mudança.
Madureira
Em um segundo momento, porém, Geraldinho se reuniu com seus servidores na Câmara para exigir dinheiro deles, visando a campanha eleitoral do ano que vem, segundo a ação do órgão ministerial.
O vereador teria, inclusive, uma planilha com a determinação de quanto cada servidor deveria entregar de seu salário. Os valores variavam de R$ 150 a R$ 200.
Durante o encontro, que foi gravado por um servidor, o vereador explicou que recebeu R$ 5 mil do então candidato a deputado estadual e ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-ES) Marcos Madureira para compra de votos, segundo o MP-ES.
O áudio foi entregue ao MP-ES e faz parte da ação. Segundo o órgão, o vereador tinha a inteção de se espelhar e reproduzir a conduta do ex-conselheiro de distribuição de promessas, valores e vantagens.
“Fazer igual o Madureira fez aqui com nós. Tirou uma mixaria, igual deu uma mixaria para cada um. No caso, me deu R$ 5 mil e eu distribui. E falou: ‘Se eu ganhar, você tem tantos mil'”. Fechei na hora”, disse Geraldinho aos servidores no áudio da reunião gravada.
No entanto, em depoimento ao MP-ES, o vereador negou que tenha recebido qualquer quantia de Madureira, mas afirma ter apoiado a candidatura do ex-conselheiro à Assembleia Legislativa, assim como outros vereadores da Serra fizeram. Madureira não foi localizado pela reportagem.
Fonte: Tribuna