Com um passado marcado por sofrimento desde que as drogas fizeram parte da sua vida, um padeiro, de 22 anos, que foi expulso de casa, chegou a morar nas ruas e carrega cicatrizes de facadas pelo corpo, deseja “escrever uma nova história.”
Há dois meses, ele, de forma voluntária, decidiu se internar no Instituto Horta de Vida, em Cariacica, e nessa quinta-feira (6) conversou com a reportagem, mas preferiu não se identificar.
A Tribuna –Começou a usar drogas com quantos anos?
Padeiro – Comecei aos 12 anos, com maconha e, aos 15 anos, fui para cocaína. Um ano depois, comecei a frequentar bailes funk onde usei drogas sintéticas. Com a influência de pessoas que se diziam amigas, fui usando cada vez mais drogas. Virava noites usando. Faltando um mês para eu completar 18 anos, fiquei um mês sem dormir, só nas drogas, cocaína, mas nunca usei crack. Usava e vendia droga dentro de um apartamento alugado.
Chegou a roubar para sustentar o vício?
Sim. Roubava celular, cordões, relógios em ônibus. Já levei três facadas de um cara que eu roubei dentro do coletivo. Quando eu estava descendo ele me deu as facadas. Dentro do hospital uma mulher que nunca tinha me visto falou: ‘Deus fechou a sua cova pela última vez’.
Isso te fez mudar?
Sim, mas mesmo assim eu continuei aprontando, usando drogas, porém com medo. Fui expulso de casa depois que peguei dinheiro da minha irmã.
Morou nas ruas?
Morei nas ruas por um mês, mas não desejo isso para ninguém.
Quando tudo começou a mudar na sua vida?
Há dois anos, conheci a minha esposa na véspera de Natal. Ela era dependente, usou até crack, mas foi internada de forma compulsória. Quando a conheci ela já estava limpa. Depois ela teve recaída, usou droga comigo até que ela engravidou e parou de usar. Eu continuei.
Qual foi a última vez que usou drogas?
Há dois meses, quando eu cheguei aqui no instituto.
O que perdeu?
Perdi empregos, apoio da minha família, perdi o aconchego da minha casa e quase perdi a minha esposa e a minha filha, que vai fazer um 1 ano e 4 meses. Mas decidi buscar ajuda e quero escrever uma nova história. O pessoal da minha igreja, do grupo Livre das Drogas em Cristo, me ajudou a vir para cá e estou muito feliz e tenho muita fé que irei vencer e virar essa página.
É favorável à internação compulsória?
É muito importante, mas se a pessoa não quiser é muito difícil de ela mudar. É preciso ter muita força de vontade.
Fonte: Tribuna