Cada um dos cerca de 200 países busca maneira de criar seus símbolos nacionais, seja através de brasão, de hino ou da bandeira. Esta última segue um padrão quase imutável: retangular, com algumas cores e um ou outro elemento que remeta a nação. A do Brasil, por exemplo, tem o verde para simbolizar nossas matas, o azul para representar os rios e o céu e o amarelo para lembrar nossas riquezas.
Outros países capricham em desenhos: a de Moçambique tem uma AK-47, a do Butão tem um dragão e a da Arábia Saudita tem uma espada. Porém, são nas cores que as bandeiras costumam se diferenciar. Muitas apostam nas três faixas, verticais ou horizontais, como a França, a Alemanha, a Bélgica e a Holanda. A Líbia, até 2011, tinha uma das bandeiras mais “preguiçosas”: um retângulo verde, sem nenhum desenho ou inscrição.
Mas você já reparou que as bandeiras de países não têm a cor roxa? A da Dominica é uma das poucas que possui a cor, mas apenas em um detalhe da plumagem do papagaio-imperial representado no centro da flâmula. Por que uma cor tão conhecida se tornou tão “irrelevante” na hora de as nações criarem seus símbolos?
Bandeira da Dominica: uma das pouquíssima a ter elementos roxos
Aulinha de História
O corante roxo surgiu com os fenícios da cidade de Tiro, local onde hoje está o Líbano. Os artesões retiravam o pigmento de um caracolzinho marinho, cuja mucosa, após exposição ao sol, mudava a tonalidade de branco para amarelo-esverdeado, depois para vermelho e por fim o roxo. O processo necessitava uma enorme quantidade de caracóis e um tempo muito grande de processamento, fazendo um grama do corante ser mais caro do que o ouro!
Por isso, o roxo passou a ser um símbolo de status. A rainha Vitória, que liderou o Reino Unido entre 1837 e 1901, proibiu que qualquer pessoa além da família real trajasse algo nessa tonalidade. Antes disso, nos séculos 16 e 17, apenas os mais abastados tinham dinheiro para pagar por peças que trouxessem elementos púrpuras ou roxos.
A história da cor só mudou em 1856, quando o químico inglês William Henry Perkin acidentalmente criou uma forma sintética de produzir a cor: ele tentava fazer a molécula quinina, para tratar a malária, em laboratório quando chegou sem querer ao corante. Na hora ele patenteou a descoberta e barateou os custos da tonalidade.
William Henry Perkin segurando um pedaço de tecido lilás após criar a tonalidade em laboratório
E por que a cor não se popularizou nas bandeiras depois disso?
Assim, quando o roxo finalmente se tornou algo mais acessível ao grande público, praticamente todas as bandeiras nacionais já haviam sido criadas. Não fazia sentido trocar o símbolo por um que tivesse a nova cor. Apenas algumas exceções ocorreram, como o caso da Dominica, que adotou sua bandeira com o papagaio em 1978.
Hoje em dia, algumas bandeiras já contam com a tonalidade, mas se tratam de entidades como a Igreja Apostólica Armênia e as Brigadas Internacionais. Cidades como Montreal (Canadá) e Madrid (Espanha) também trazem o lilás em suas flâmulas. Além delas, a bandeira da assexualidade também tem uma das listras dessa cor.
Bandeira da Igreja Apostólica Armênia