A chegada da caravana do ex-presidente Lula (PT) ao Espírito Santo, na tarde de ontem, foi marcada por manifestações de apoiadores vindos de todo o Estado e pelo discurso que o petista será, sim, candidato à Presidência da República em 2018. Enquanto nas caravanas no Nordeste e em Minas Gerais ele repetiu que não sabia se seria candidato e sustentou que a viagem era “para conversar com o povo”, no ato na Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, Lula deixou claro que estará no páreo. “Não fiquem com essa bobagem de que o Lula não vai ser candidato, porque eu vou ser candidato e vou ganhar essa eleição”, afirmou.
A fala, inclusive, ocorreu no dia da divulgação de que o relator sobre o recurso de Lula contra condenação na Lava Jato concluiu seu voto. Entretanto, Lula não abordou o assunto durante o discurso, que durou 30 minutos. Nem os organizadores nem a Polícia Militar estimaram o número de participantes do evento.
Lula voltou ao Estado pela primeira vez como ex-presidente, já que não pisava em território capixaba desde 2010. O petista esteve ao menos 15 vezes no Estado, sendo que 12 delas aconteceram durante os oito anos em que governou o país.
Durante o ato, jingles antigos foram ressuscitados pela militância, além da divulgação de uma nova música, com todo estilo e trilha de campanha. Por diversas vezes, os participantes gritaram “Fora, Temer”, e o assunto também não ficou de fora da fala de Lula.
“Se a Dilma teve que sair, segundo a lógica deles, porque ela tinha perdido a governabilidade e porque ela estava mal na pesquisa, e o Temer? Quando ele terminar esse golpe dele, ele vai estar devendo para o Ibope, para o Datafolha, porque o resultado vai ser negativo. A aprovação é menos dez”, frisou.
O ex-presidente evitou abordar temas da política local, mas destacou os investimentos destinados por ele ao Espírito Santo.
“Eu duvido que na história do Estado tenha um presidente que tenha investido o que eu investi em oito anos de mandato. Perguntem a qualquer governador se ele algum dia recebeu de algum presidente mais dinheiro para investimento do que no meu governo. Aliás, pergunte a qualquer prefeito, seja do DEM, seja tucano, se ele recebeu mais recursos. Porque eu tratei eles com respeito, e não com o ódio que eles nos tratam”, disse.
CHEGADA
O avião fretado que trouxe o ex-presidente pousou no Aeroporto de Vitória pouco depois das 18 horas.
Segundo o presidente do PT no Estado, João Coser, o voo de São Paulo não saiu no horário. Lula desembarcou por uma das saídas de cargas do aeroporto, onde alguns manifestantes o esperavam. Ele acenou, mas não parou para cumprimentar os militantes. Segundo representantes do Movimento Sem Terra (MST), oito ônibus saíram do interior do Estado para acompanhar o discurso do ex-presidente na Praça Costa Pereira. Outras caravanas também estiveram presentes.
O petista continua no Espírito Santo até o fim do dia de hoje. Ele dará uma palestra no Ifes de Cariacica de manhã. Depois, seguirá, de ônibus, para o Rio de Janeiro com paradas às margens da BR 101. (Com colaboração de Kaíque Dias)
Coser é vaiado pelo público na Costa Pereira
O presidente estadual do PT no Espírito Santo, João Coser, foi um dos militantes que puderam discursar antes de Lula, durante o ato, mas recebeu vaias de um grupo de participantes durante seus pouco mais de dois minutos de fala.
No manifesto, o público também gritou “Fora, Paulo Hartung”, como uma forma de crítica à participação do partido na atual gestão. Coser, aliás, foi secretário de Estado. Após as eleições do diretório estadual, este ano, o tema dominou o debate interno e culminou com a decisão de desembarque do PT do governo Paulo Hartung (PMDB).
No fim do ato, Coser minimizou a situação. “Faz parte do cotidiano. Tem uma parte do PT que se realiza falando contra o Paulo, e tem uma parte que quer construir um futuro melhor. Os que perderam a eleição do diretório provavelmente articularam isso propositalmente. Nem com Lula aqui conseguiram deixar a baixaria e a disputa interna, mas vamos tocar para frente, o importante é a unidade do PT”, defendeu.
FRASES
“Se a Dilma teve que sair porque tinha perdido a governabilidade e estava mal na pesquisa, e o Temer? Quando ele terminar esse golpe dele, vai estar devendo para o Ibope”
“A mulher tem que ter uma profissão. Além de ganhar bem, ela tem que ter independência. Ela não pode ficar casada em troca de um prato de feijão com arroz”
“Se eles têm vergonha de dizer que são políticos, eu não tenho. Se eles têm vergonha do partido deles, eu não tenho vergonha do meu”
“Tudo que eu quero é que eles encontrem um candidato representante do mercado e com o logotipo da Globo na testa”
LULA (PT) – EX-PRESIDENTE
Para aliados, petista sofre perseguição
Os petistas, participantes de movimentos sociais e sindicais e apoiadores de Lula, que estiveram no ato da Praça Costa Pereira, ontem, não trabalham com a possibilidade de o ex-presidente não poder disputar a Presidência por causa de uma eventual condenação em segunda instância. Para eles, o partido não cogita nomes alternativos.
“Nós avaliamos que a tentativa de tirar o Lula da disputa tem um objetivo: tirar do processo o candidato que lidera as pesquisas. Quem pratica a corrupção tem que ter provas e isso não existe. Se houver as provas não haverá o que dizer”, disse o deputado federal Helder Salomão (PT).
A ex-deputada Iriny Lopes (PT) considera que é notório que Lula é alvo de perseguição. “As pessoas querem Justiça. É por isso que ele lidera as pesquisas. Ele é popular, não tem prova contra ele em nenhuma instância. O povo brasileiro não é bobo, está vendo a manipulação dos poderes para atingir a classe trabalhadora. Gostem ou não, Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve”, frisou.
Militante histórico do PT no Estado, Francisco Celso Calmon avalia que o PT lidera hoje um processo de reorganização da esquerda no Brasil, e que Lula está dando oportunidade de a legenda corrigir os erros.
“Tenho evitado pensar na tragédia que seria negar a possibilidade de Lula ser eleito. Ele é o símbolo do que resta da nossa democracia, que hoje vive uma tirania togada. Ele não é um incendiário, é um pacifista”, afirmou.
Esta etapa das viagens de Lula pelo Brasil pode ser vista também como a mais difícil deste ano, por ser em locais onde o PT possui menos penetração. Para Perly Cipriano, um dos fundadores do PT no Espírito Santo, os atos de Lula pelo país não são uma campanha, e sim uma defesa da democracia.
“Essa praça é simbólica para o Estado, foi o nosso coração político. E aqui não há pedido de voto para o Lula, e sim depoimentos dele e do próprio povo sobre como foi possível beneficiar tanta gente com políticas públicas”, argumentou.
UNIÃO
A presença de Lula no Estado pode ter contribuído para um processo de reunificação do PT regional, que saiu rachado após a última eleição do diretório estadual, acredita o presidente da sigla, João Coser. “Enquanto eu e Helder viemos com ele do aeroporto para cá, ele falou muito da intenção com as caravanas, de motivar o partido, mobilizar e energizar. Tem acontecido isso quando ele passou no Nordeste, em Minas Gerais, e a expectativa é que isso ocorra também aqui e no Rio de Janeiro.”
Durante o ato, foram entregues a Lula mil novas fichas de filiação de capixabas ao PT. Segundo os organizadores, a meta para o Espírito Santo é filiar ao todo 10 mil novas pessoas.
O QUE DIZEM OS ALIADOS
“O Espírito Santo deve muito a Lula. O servidor estava com salário atrasado, e ele socorreu o Estado”
Carlos Casteglione, ex-prefeito
“Está notório que Lula é alvo de perseguição. Gostem ou não, ele foi o melhor presidente que o Brasil já teve”
Iriny Lopes, ex-deputada federal
“Por onde passa, Lula tem o que falar. Não é campanha, é a defesa da nossa democracia”
Perly Cipriano, fundador do PT-ES
“Tenho evitado pensar na tragédia que seria negar a possibilidade de Lula ser escolhido (em 2018)”